13 de fevereiro de 2011 | 23h00
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Flávio Settanni fala de sua academia de luxo e contesta dogmas da ginástica.
Foto: Denise Andrade/ AE
Virou lugar-comum entrar em loja de luxo e ser recebido com champanhe. Ter à disposição uma vendedora para chamar de sua, que cobrirá o cliente de atenção. Como resultado, quase sempre a satisfação do comprador. O conceito de “atendimento personalizado” + “um carinho especial” chegou à academia. Projeto de
Flávio Settanni, cobiçado personal trainer de estrelados como
Luciana Gimenez,
Raquel Silveira,
Fernanda Barbosa e
Fernando Alterio. Ele levou sua experiência de mais de 20 anos no mercado como treinador autônomo e associou-se à
Dorinha Zarzur. A empresária acreditou na ideia e, depois de muito procurar, encontrou espaço no Itaim Bibi. Um complexo de 700 metros quadrados de academia, onde há médicos e nutricionistas, spa e salão de beleza. Há um mês no ar, a Sett Coaching já foi batizada: “Daslu das academias”. Settani conversou com a coluna.
Ser considerada a “Daslu das academias” é bom ou ruim?
A Daslu fez um trabalho excepcional nos primórdios. Acredito que acabou se perdendo ao optar por crescer e ficou grande demais. Nós pretendemos funcionar como uma grande sala VIP. Quero 300 clientes ativos e não 3 mil como outras tantas. O foco é outro.
Uma academia pequena como a sua, com 10% do total de alunos das grandes, tem como sobreviver?
Entramos no mercado onde havia demanda reprimida. Queremos atender uma faixa especial e exigente. Em lugar da Daslu, eu diria que ela é mais como um “Cirque du Soleil” das academias. Eles reinventaram o circo. E nós, a maneira de tratar e conduzir os clientes.
A mensalidade começa em R$ 800. O que tem para ser tão cara?
Tudo. Você está suando? Alguém do staff pega uma toalhinha para você se enxugar. Toalha de banho não é alugada, a gente empresta e é fofa, cheirosa, gostosa. O box do banheiro é individual. Tem banquinho ao lado para colocar suas coisas. Há privacidade, ninguém te vê pelado. Oferecemos estacionamento com manobrista, água com gás. Tá com fome? Tem frutas secas. Aqui a luz não é branca. Então não precisa de maquiagem. A ambientação faz com que a pessoa se sinta magra, bonita e bronzeada. Disponibilizamos serviço individualizado com um instrutor para cada pessoa e a minha supervisão nos treinos. Somos uma equipe multidisciplinar. Se colocar no papel, custamos metade.
É um treino convergente?
É. Assim consigo abraçar todos os processos que levam ao resultado, que é feito de uma conjunção de fatores: treinamento, nutrição, modulação hormonal, motivação, frequência. E mais: aqui há acompanhamento em tempo integral: uma pessoa do meu staff do seu lado anula a chance de você trapacear, pular exercício, fazer errado ou com o peso menor. Treinar não é para fazer o que gosta e, sim, o que precisa.
Não tem negociação?
Tem algumas escolhas. Não gosta de aula de bike? Vá correr na rua. Não gosta de fazer abdominal? Isso não é uma opção? Você gostará do quê? Do resultado. E há uma diferença entre ginástica de resultado e para diversão. Quer “fun”? Faça aula de dança ou de circo.
O que é mais comum: gente malhando por saúde ou para ficar bonito?
Todo mundo faz ginástica para ficar bonito. É uma delícia malhar? Não. Se falassem assim: “Você vai ficar bonita de qualquer jeito, malhando ou não”, iria para a academia? Não, beberia vinho. E existe quem busque outros objetivos como melhorar a performance em algum esporte ou por recomendação médica mesmo. Só que até os 30 você pode até ter o corpo que Deus lhe deu. Depois dos 30 terá o corpo que merece.
Qual é o tipo de resultado que seus clientes mais procuram?
Já tivemos aquela fase mais marombada. Agora passamos para um físico mais longilíneo. Vamos chamar de um corpo mais chique, não tão agressivo no visual. Muita gente vem com um objetivo, mas o estilo de vida não permite alcançá-lo. Você está disposto a pagar o preço da abdicação? Porque atrapalha a vida social. Eu tomo vinho, fumo charuto, saio quase todo dia. Mas é necessário equilibrar. Quer ter um corpo como o da
Madonna, todo rasgado? Não vai poder comer bolo de chocolate da vovó toda semana.
E tomar hormônios?
Eles são a chave do funcionamento. A resposta do corpo a estímulos depende deles. Ditam como vai queimar gordura, quanto vai construir de músculo, como estará seu humor, sua pele. A partir de certa idade, o segredo é fazer a modulação hormonal. E por isso temos um médico aqui. Muitas vezes, ele defende reposição com hormônios bioidênticos.
Recomendam esteroides?
Vamos lembrar que a origem é de uso médico. Foi criado como auxiliar pós-operatório, na recuperação de massa muscular. E está cada vez mais em desuso. Claro que há sempre algum adolescente querendo usar – o que é um absurdo. Somos contra.
O que não entra na sua academia de jeito algum?
Aquela infinidade de aulas de resultados duvidosos. Aula de localizada não tem o menor sentido quando o verdadeiro trabalho localizado é feito no aparelho de musculação. Aula de localizada é diversão e zero eficiente. Até funciona com sobrecarga, mas aí fica perigosa. Aula de abdominal é um absurdo. Fazer meia hora de exercícios para um músculo que responde bem com três séries de 15 repetições, desde que bem feitos, é perda de tempo.
E alongamento?
Meia hora de alongamento é um despropósito. A própria palavra “alongamento” já está errada. Você tem é um destravamento de fibras musculares. E isso você consegue com cinco minutos de trabalho eficiente.
Alongamento previne lesões?
É uma teoria muito controvertida. Mas isso é muito individual. Para algumas pessoas é fundamental alongar antes, para outras é ruim. Tem que detectar caso a caso, mas com a ajuda de profissionais. Você trata o dente sozinha? Pega o aparelhinho e faz “dziiiiii”? Você constrói sua casa? Então você vai construir seu corpo sozinha? Não tem a menor condição.
Só o exercício aeróbico é suficiente para emagrecer?
É um grande complemento. Mas existe um mito em relação ao trabalho aeróbico e o emagrecimento. Emagrece? Sim. Mas se não fizer musculação, essa queima de gordura no médio prazo ficará comprometida porque a perda de massa muscular faz seu metabolismo cair e diminui a quantidade de calorias que se queima em repouso. Veja que isso é um tiro no pé. Porque você terá que comer cada vez menos ou fazer cada vez mais exercício aeróbico. Chega uma hora que seu programa está inviável. Então o ganho e a manutenção de massa muscular é o que vai dar uma mudança estética definitiva. Por isso é que tem que fazer o que precisa, não o que gosta. Fora a funcionalidade do trabalho muscular. Conforme você vai envelhecendo, perde músculo e essa perda acarreta não só o acúmulo de gordura, mas a perda de funções. Fica mais difícil agachar, mudar de posição e praticar esportes.
Tem que malhar todo dias?
Uma vez por semana é inútil. Duas é o mínimo para algum resultado. Três é um bom programa. Quatro é o melhor para resultado rápido. Mais de quatro vezes, só em casos específicos. Tipo: controlar a ansiedade ou se a pessoa tem três semanas para mudar o corpo. Ou ainda porque precisa fazer umas fotos… Daí faz-se um treino intensivo de até seis vezes. Sete? Jamais. Se até Deus descansou…
DÉBORA BERGAMASCO
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