sábado, 22 de maio de 2010

Histórias das meias

A noiva do rei Felipe IV da Espanha encontrava-se em viagem para Madri, Era uma viagem cansativa e havia constantes paradas, pois cada cidade queria festejar a viajante e preparar uma recepção brilhante à futura rainha. Mais uma vez o cortejo parou. Segundo o cerimonial espanhol, vieram os cumprimentos. Depois entregaram à princesa um presente de casamento - uma caixinha dourada assentada numa almofada de veludo.
Curiosa, a noiva abriu a caixa, fitou-a e deixou-a cair como se estivesse queimando. Parecia querer desmaiar. O seu séquito acorreu e o marechal da Corte lançou um olhar rápido para o terrível presente. No estojo dourado estava, nada mais, nada menos, um par de meias de seda. Era incrível! Apanhou a caixa e devolveu-a.
"Uma rainha não tem pernas!", disse ele friamente.
Assim era naquele tempo. A observação do marechal da Corte espanhola, que hoje parece cômica, significava que era o cúmulo do atrevimento pensar na existência das pernas de uma mulher, e ainda mais quando essa mulher era uma rainha.
A moda de saias para as mulheres era até o chão. As saias mal deixavam ver a ponta dos pés. O que era permitido aos homens - mostrar as pernas - era vedado às mulheres. Era de muito mau gosto falar das pernas; quanto às meias, nem sequer se devia pensar em tal coisa.
Os governantes daquela cidade queriam oferecer qualquer coisa preciosa, um presente digno de rainha. E ao mesmo tempo era um artigo de que se podiam orgulhar, porque se tratava de uma perfeição de manufatura da sua cidade. Por isso escolheram as meias de seda, que representavam naquele tempo um artigo muito raro, um luxo.
Talvez até a pobre princesa tivesse apreciado muito as meias de seda mas, como foram oferecidas de forma tão direta e em público, não lhe restava outra solução senão ficar chocada, ainda que intimamente isso a aborrecesse. Afinal de contas, oficialmente ela não tinha pernas.


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