domingo, 7 de dezembro de 2008

Fiz uma matéria de opinão Cartas foi editada na Gazeta do Sul em 25 de Novembro de 2008

Esse relato, fiz após perceber a fragilidade do uso da linha 197, na delegacia de polícia.

Um alô para o 197


Um dia desses, no início do mês de novembro, fui à delegacia de polícia registrar uma queixa. É aquela próxima ao Fórum, quase em frente ao SUS. Pois bem, a fila é longa no plantão e as coisas que se escutam por lá são de assustar muitas vezes, mas é a realidade de muitos. E os escrivães plantonistas são extremamente metódicos em escrever os relatos dos fatos ocorridos. Aos leitores que nunca foram em uma delegacia dar queixa, seja ela qual for, parabéns ou pena que não possam ser os heróis de suas próprias vidas. A gente escuta de tudo em uma delegacia. Por incrível que pareça, a delegacia tem um número “gratuito” para denúncias e outros serviços de urgência. Porém, nada no mundo é gratuito: quem paga as ligações recebidas deste número é o Estado, indiretamente você, leitor. Um serviço que funcionaria muito bem se tivesse como monitorar as chamadas.

Bom, voltando ao assunto: no tempo em que estive lá, esperando para ser atendida, foram recebidas diversas ligações do 197 que não eram nada de reclamações, nada de denúncias policiais, mas sim trotes. Quando chegou a minha vez, também o escrivão teve de parar umas cinco vezes o atendimento para dar atenção à ligação. E era apenas mais um trote. O que muito me admira é que era um trote incansável de uma criança. Como não há bina, se a criança foi uma vítima nunca saberíamos naquele momento. Porque não tem como verificar a origem da ligação. E a interrupção continua por causa destas ligações, e cada vez que é interrompida voltamos a relatar a queixa de onde o escrivão se lembra que parou. Mas isso não é o problema. O problema é a falta que faz um bina. pessoas podem estar correndo perigo, mas outras engraçadinhas se dão ao desfrute de ligar para uma delegacia só porque não têm nada a fazer. E ainda, como se não bastasse, naquele momento podem estar prejudicando alguém que realmente precisa de socorro.

O número 197, para mim, nesta ocasião, me fez ver a precariedade de um serviço moderno que não pode, de forma alguma, ser bem utilizado como recurso mais importante para a resolução de casos policiais: se não há a origem das ligações! Ou o Estado do RS abre um concurso para um tipo de plantonista exclusivo para o número 197, ou compra um bina. Até quando veremos, neste país, o funcionamento de certas coisas depender de tantas outras? Hello, 197.

Clara Schestatsky

Nenhum comentário: